Mapa Conceitual dos Complexos Autônomos agindo no filme “Minha Vida na Outra Vida”.
Nossa hipótese analítica ao filme considera alguns eventos sincronísticos como fatores preponderantes para disparar acessos e ativar conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, visto que, alguns eventos sincronísticos, apresentados no filme, podem ter provocado, o que Jung coloca como identificação com o complexo. Ou seja, a partir dos conteúdos vivenciados por Jenny, conteúdos conflituosos, diga-se de passagem, e que estabeleceram ligação sintônica com as experiências e conteúdos traumáticos vividos por Mary (a mãe da família irlandesa). Como já mencionamos não nos ateremos ao tema reencarnação, mas vislumbraremos a hipótese de que lembranças de uma suposta vida passada, trata-se de complexo autônomo do inconsciente coletivo e não exclusivamente pessoal. Ampliando assim, a possibilidade de ser a existência, vida, experiência ou complexo de qualquer pessoa e não necessariamente a existência anterior da personagem central do filme, pois se assim fosse o estudo estaria limitado ao contexto de complexo autônomo do inconsciente pessoal, afirmando e/ou interpretando Jenny como reencarnação de Mary. Como sabemos, os complexos são autônomos e pertencem ao inconsciente pessoal, mas como a psique não é estanque, é óbvio que eles têm forte carga do inconsciente coletivo, e como Jung coloca, o processo criador pode surgir no inconsciente coletivo como um complexo que tem influencia social.
Para ilustrar nossa abordagem, além do recorte, abaixo, extraído livro do Jung, que fala sobre os componentes da psique, como memória, afeto e invasão, incluímos na parte de anexos, deste trabalho três mapas conceituais. Sendo que, no primeiro mapa conceitual[1], apresentamos algumas imagens do filme que justificam nossa hipótese de eventos sincronísticos, tendo entre estas imagens, o segundo mapa conceitual, ampliado na pagina seguinte. Neste nosso segundo mapa conceitual[2], apresentamos uma adaptação, onde mesclamos as informações contidas no diagrama[3] proposto por Jung em (Jung, 1999, § 88) e as informações contidas no mapa conceitual[4] apresentado por Waldemar Magaldi (Magaldi, Psicossomática à luz da psicologia junguiana e da mecânica quântica, p.19), que viabiliza o entendimento de como se processa a atuação dos complexos autônomos do inconsciente, na vida do indivíduo. O terceiro mapa conceitual será citado no item 3.2.
A próxima esfera representa o complexo consciente do ego, ao qual as funções se referem. Na endopsique surge primeiro a memória, que ainda é uma função que pode ser controlada pela vontade; ainda está sobre o controle do complexo do ego. A seguir encontramos as componentes subjetivas das funções. Não podem ser totalmente dirigidas pela vontade, mas podem ainda ser suprimidas, excluídas ou intensificadas através da força da vontade. Tais componentes não são mais tão controláveis quanto à memória, embora até ela seja meio cheia de truques, como os senhores sabem. Aí chegamos aos afetos e invasões, controláveis apenas através de força sobre-humana; podemos suprimi-los e nada mais – podemos cerrar os punhos para não explodirmos, e só, pois esses fatores são muito mais fortes que o complexo do ego.[5] (JUNG, 1999, § 90. Grifo do autor).
Conforme mapa conceitual[6], podemos observar algumas imagens, extraídas do filme, de experiências e/ou de conteúdos vivenciados por Mary e acessados por Jenny, onde a primeira seqüência de imagens apresenta a gravidez e o parto de Mary, seguida do filho recém nascido morto em seus braços. Aqui podemos co-relacionar aos conteúdos de Jenny, visto que encontra-se, naturalmente, apreensiva por estar grávida aos 42 anos de idade e conseqüentemente, identificada com o trauma vivido por Mary, que certamente colaborou para a formação deste complexo autônomo do inconsciente. Em relação à Jenny, entendemos este complexo como coletivo, por não haver, mesmo na apresentação do filme, qualquer tentativa de comprovar que Jenny seja a reencarnação de Mary.
Nas imagens seguintes podemos observar Mary sendo arrastada por John, seu marido, que a espanca e violenta sexualmente. Todo o horror desta seqüência é agravado pelo fato de John, imerso em sua doença psíquica e tomado pela sombra destrutiva dele próprio e de toda a família, ignorar as orientações e advertência que recebeu do médico após o complicado parto e óbito do bebê, referente ao mortal risco de Mary engravidar novamente. Mary vive mais uma gestação complicada e desesperada com a iminência de um parto fatal, transfere a responsabilidade de manter os filhos unidos ao filho mais velho, Sonny que na ocasião contava 9 anos de idade aproximadamente. Mary não resiste ao parto e deixa os filhos a mercê de um pai destruidor. A este contexto, co-relacionamos o fato de Jenny se identificar com algo que também remete a dor do ninho vazio, pois seu filho Kevin aos 17 anos de idade adquire seu primeiro automóvel e planeja estudar em outra cidade, dando os primeiro sinais de maioridade e desidentificação com os pais, natural ao desenvolvimento da personalidade.
Por conta destes eventos sincronísticos, Jenny dá vazão ao material vindo do inconsciente e empreende investigação apurada dos conteúdos obtidos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo e como numa colcha de retalhos segue unindo os pedaços compreendendo as ligações com sua própria vida, resignificando alguns posicionamento durante um verdadeiro processo alquímico e alavancando o processo de individuação pessoal e coletivo, pelo menos no que diz respeito às pessoas envolvidas.
[1] Conforme anexo na página 63.
[2] Conforme anexo na página 64.
[3] JUNG, Carl Gustav. Fundamentos de psicologia analítica. Petrópolis: Vozes, 1999.
[4] Magaldi, Waldemar. Psicossomática à luz da psicologia junguiana e da mecânica quântica. Arquivo: PNEI – 15_1.
[5] JUNG, Carl Gustav. Fundamentos de psicologia analítica. Petrópolis: Vozes, 1999.
[6] Conforme anexo na página 63.