Maternidade e Maternagem

Maternagem IMaternidade = qualidade ou condição de ser mãe, laço de parentesco que une mãe e filho. Maternagem = cuidados próprios de mãe, materno, afetuoso, dedicado, carinhoso e maternal. Assim se classificam os dois termos, maternidade e maternagem, embora bastante semelhantes em suas descrições são diferentes em essência. Ambos possuem características arquetípicas e instintivas.

A maternidade é uma característica única feminina de consequências instintivas e arquetípicas, podendo o aspecto arquetípico ser sombrio e transformar a mulher numa mãe devoradora, destruidora, não maternal, mas a maternagem se caracteriza muito mais por uma característica arquetípica com apelo instintivo primordial, assim aquela(s), ou aquele(s), que exerce a maternagem possui sempre a característica de servir, de devoção, mas não nos enganemos, pois também aí encontraremos o aspectos sombrios daqueles que usam deste recurso para, abusando do poder, exercer o mal e a destruição.

Ser mãe é uma condição sempre física e nem sempre optativa, mas a maternagem é sempre uma escolha, um desejo de servir que existe nas mulheres e nos homens que possuem uma relação de influência por sua anima(falaremos de Anima e Animus no próximo texto!). Maternagem é cuidar, dedicar-se por amor. Embora o conceito derive da mesma raiz não significa, em absoluto, que toda mãe é maternal. As pessoas maternais são aquelas que abraçam as grandes causas, preocupam-se com todos os seres.

No século 18, na França, havia um costume das mães entregarem seus bebês às amas mercenárias porque se considerava a amamentação um gesto de primitivismo animal. As mais ricas contratavam amas mercenárias para morarem nas suas casas e as mais pobres enviam seus bebês recém-nascidos às amas mercenárias mais pobres. Muitos bebês (15 a 20%) morriam já no precário transporte feito em carroças com outros bebês. Estas amas trabalhavam no campo do dia inteiro e deixavam os bebês fortemente enfaixados e pendurados para não serem incomodados pelos animais. Conforme região, até 80% dos bebês morriam até os quatro anos de idade quando voltavam para casa de suas mães. As mães logo contratavam uma governanta, depois um preceptor para encaminha-los ao internato de onde saiam para o casamento. O governo francês percebeu a falta de crianças e fez uma campanha imensa para mudar a maternagem, desenvolvendo o tipo de mãe dedicada-devotada, sacrificando a própria existência, que vemos hoje. Para saber mais leia “Um amor conquistado: o Mito do Amor Materno”, da Elisabeth Badinter – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. Elisabeth é filósofa e pesquisadora, com muitos livros publicados.

Com a emancipação da mulher, a maternagem ficou prejudicada. Não somente pela ausência física, mas pela falta de conhecimentos educativos. Geralmente, a mãe sente-se culpada por ficar tanto tempo longe do filho e tenta compensar agradando-o em demasia, atrapalhando assim a educação, pois o filho aprende a ser um “amado tirano”, que de certa forma, comanda a vida dos adultos à sua volta… Faz mais falta o desconhecimento de como educar bem, do que o tempo de convivência com o filho. O problema não está na mãe trabalhar fora, mas em não saber administrar esta ausência na particular e transitória situação de ser mãe de filhos na primeira infância.

Quanto mais novo e mais incapaz for o filho, mais cuidados ele requer da mãe. Entretanto, é a mãe que tem que saber que educar não é criar o filho para si, mas prepará-lo para ter autonomia comportamental, independência financeira e cidadania ética, que obviamente refletirá na saúde, tanto física quanto psíquica, dos seres e na sobrevivência de toda forma de vida.

Maternagem consciente é tornar o filho(e/ou indivíduo ou grupo que recebe cuidado) independente dela(e/ou dele ou instituição ou estado). Ampliando nossos horizontes, vemos que é exatamente do que precisamos para equilibrar esta sociedade tão racionalizada, tão carente de cuidados, carente de afeto e serviços amorosos, tão dependente e muitas vezes personificando os “amados tiranos”, que de certa forma comanda a vida dos adultos e/ou dos cuidadores maternais à sua volta!!!

 

Rosangela Corrêa – Psicoterapeuta – Especialista em Psicologia Junguiana

E-mail:  roapcorrea@yahoo.com  –  Cel.: 55(11) 9.9883-4347

Consultórios: São Paulo – Pinheiro (em frente ao Sesc Pinheiros-Metrô Faria Lima) e Vila Madalena – (2 quadras do metrô Madalena) / Jundiaí/SP – Vila Liberdade