1.2 – Análise Alquímica da Individuação

Mapa conceitual - Processo Alquimico - Png

Um paralelo entre o processo de individuação, presentes no filme “Minha Vida na Outra Vida”, e Montanha do Adeptos X Rosarium Philosophorum.

 

O filme apresenta 11 acessos aos conteúdos do inconsciente coletivo, que, no filme, ocorrem como flashback de três maneiras: 1 vez de forma onírica, 2 vezes pela condução de um terapeuta que utiliza hipnose e 8 vezes de forma espontânea durante os afazeres cotidianos de Jenny. Estes acessos espontâneos tomavam-na de forma imprevista, durante o trabalho, cozinhando ou dirigindo automóvel, causando dificuldades e até mesmo colocando sua vida em risco.

Como no-lo mostra a experiência das associações, eles interferem na intenção da vontade e perturbam o desempenho da consciência; produzem perturbações na memória e bloqueios no processo das associações; aparecem e desaparecem, de acordo com as próprias leis; obsediam temporariamente a consciência ou influenciam a fala e ação de maneira inconsciente. Em resumo, comportam-se como organismos independentes, fato particularmente manifesto em estados anormais. Nas vozes dos doentes mentais assumem inclusive um caráter pessoal de ego, parecido com o dos espíritos que se revelam através da escrita automática e de técnicas semelhantes. Uma intensificação do fenômeno dos complexos conduz a estados mórbidos que nada mais são do que dissociações mais ou menos amplas, ou de múltiplas espécies, dotadas de vida.[1] (JUNG, 1999, § 90).

Quando entrava em contato com estes complexos autônomos do inconsciente coletivo, era como se a consciência fosse, momentaneamente, desativada ou paralisada, e deixando Jenny em estado semi-sonambúlico.

 

Ao designar este estado como semi-sonambúlico, baseio-me na definição de RICHET, autor desse conceito: “A consciência desse individuo persiste na sua integridade aparente; contudo, ocorrem alterações muito complicadas fora da consciência, sem que o eu voluntário e consciente pareça ressentir-se de qualquer modificação. Nele estará uma outra pessoa que agirá, pensará e quererá sem que a consciência, isto é, o eu reflexivo e consciente tenha a mínima noção.”.[2] (JUNG, 1994, § 77. Grifo do autor).

 

Para ilustramos a dinâmica, dos acessos aos conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, assim como a analise alquímica da individuação, elaboramos o terceiro mapa conceitual.[3] Nesta ilustração podemos observar de forma global o processo alquímico de uma das fases do processo de individuação da personagem central no filme – Jenny, assim como, a inter-relação com os demais personagens ligados a sua história. Entendemos e utilizamos este mapa conceitual, como uma verdadeira mandála alquímica, onde no círculo central, podemos observar a seqüência de imagens referente à vida de Jenny e no círculo externo e maior, visualizamos várias seqüências de imagens associadas aos conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, inter-relacionando com a vida de Jenny, conforme identificação de afetos. E por fim, no último círculo temos de forma simbólica as imagens do Rosarium Philosophorum e no canto esquerdo superior a imagem da Montanha dos Adeptos, representando o processo alquímico inserido no contexto analítico.

Já na primeira cena do filme, podemos observar os primeiros conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, acessados por Jenny, onde Mary e seu filho mais velho Sonny, de aproximadamente 9 anos, estão em um pequeno barco no mar, próximos à praia, conversando ao nascer do Sol, como faziam rotineiramente, sempre antes de Sonny sair para trabalhar. As imagens se alternam entre Jenny e os diversos conteúdos advindos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, onde aparecem:- a igreja com o som do sino batendo; – grande movimentação de pessoas com destinos a seus lares, após termino da missa, através de cavalos, bicicletas, carros ou a pé; – pessoas cumprimentando o padre; – Mary e seus quatro filhos descendo as escadas da igreja; – o trajeto pelo campo florido até sua residência; – o convívio harmônico entre Mary, filhos e vizinhos e a presença desarmônica de John, um pai violento de com aparência carrancuda, adentrando o portão do seio familiar. As cenas cessam quando o marido de Jenny chama sua atenção, pedindo-lhe a posição do andamento de um de seus projetos, pois Jenny é arquiteta e trabalha em um negocio próprio junto com o marido. Por conta das invasões destes complexos autônomos do inconsciente, Jenny negligencia vários compromissos profissionais e assim, que o marido volta ao trabalho, ela retira de uma gaveta um desenho de igreja inacabado, a mesma que ela visualizará em estado semi-sonambúlico, e acrescenta à torre, uma janela e um relógio.

Aqui já podemos nos deleitar com as primeiras possibilidades de interpretações simbolicamente, prenunciando o desenrolar alquímico de todo o processo analítico do filme, onde temos um barco representando o consciente tripulado pelo ego e sua parte contra-sexuada de um e de outro respectivamente, navegando no imenso mar do inconsciente.  Temos a igreja simbolizando uma possível porta de acesso ao sagrado, a ligação com a imago dei, ao numinoso; – a figura do padre como mediador que vemos na seqüência, atuando como o velho sábio, fornecendo recursos e orientação em prol de um objetivo dentro dos processos de individuação de vários personagens; – mas para que o processo se desenvolva, haverá grande movimentação; – e a necessidade dos principais envolvidos descerem as escadas em direção as profundezas do hades, do oculto, do desconhecido e/ou inconsciente, fazendo as necessárias elaborações e mortes simbólicas do que não serve mais, em uma verdadeira jornada alquímica, sujeito aos processos pertinazes às transformações iminentes, e tendo como recompensa o campo florido das bem-aventuranças, populado por todos aqueles que empreenderam esforços para adquirir um ego, suficientemente, estruturante para as inevitáveis próximas etapas no processo de individuação, que é continuo. Tendo como aspecto preponderante a necessidade de lidar com os conteúdos sombrios destrutivos, que no filme estão personificados em John, um marido e pai violento e destruidor, que em sua doença psíquica é incapaz de fazer frente às projeções sombrias destrutivas dos respectivos filhos e esposa, visto que, todos somos portadores destes elementos construtivos e destrutivos, e que quando não vigios, somos obrigados, por nossa própria ignorância e/ou negligencia, a lidar com eles projetados em terceiros. Tendo ainda em vista que, todo este processo deve necessariamente ser empreendido de forma consciente, representado aqui por Doug, marido de Jenny, que a todo o momento procura trazê-la de volta a consciência, sem abandoná-la e participando de todo o respectivo processo. É ainda interessante observar que Jenny mesmo sem um amplo entendimento do que se passa, é capaz de se deixar conduzir pelo self, atenta aos elementos fornecidos, como no caso da reprodução do desenho da igreja e das constantes atualizações que implementa, com base nos conteúdos obtidos. Aqui no caso, ela acrescenta ao desenho uma janela e um relógio, sinalizando e possibilitando uma possível interpretação de que uma janela no alto de uma torre, permite vislumbrar o horizonte, as possibilidades futuras e relógio, também no alto de uma torre, indica o tempo chegado para o inicio e o tempo necessário para trilhar um percurso no processo de individuação. Ainda sobre o desenho, é curioso ressaltar, Maggie, mãe de Jenny, em outro momento do filme, mostra-lhe um baú com alguns objetos antigos de Jenny, entre eles, alguns desenhos pintados na infância, onde constavam a igreja e os mapas da cidade relacionados à família que, aos 6 anos, dizia ser na Irlanda. Maggie explica que Jenny os deixava loucos por falar o tempo todo na tal família irlandesa, e que os sonhos, também presentes na infância, cessaram quando começou a freqüentar a escola, ou seja, na transição da fase matriarcal para a patriarcal. Em outra ocasião, apresentando-lhe um mapa, Maggie estimula a filha, para tentar identifica em que local na Irlanda, poderiam estar associadas suas “lembranças” ou conteúdos obtidos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo e Jenny, intuitivamente, aponta para Malahide. Posteriormente, ambas, de posse de um mapa topográfico, constatam a similaridade com os desenhos produzidos por Jenny.

Maggie atua como grande incentivadora em prol da investigação dos conteúdos acessados por Jenny, principalmente por perceber a dificuldade de sua filha, em administrar os efeitos produzidos pelos complexos autônomos do inconsciente coletivo, em seu cotidiano de forma direta e indireta.  E neste caso, quando não administrados, os conteúdos sombrios podem atuar de forma destrutiva na vida do individuo. Maggie tem outras duas participações fundamentais durante esta etapa do processo de individuação de Jenny. Sendo que uma destas participações atua como psicopompo, quando apresenta a possibilidade de Jenny utilizar um recurso terapêutico para acessar de forma direcionada, as tais lembranças de vida passada, ou existência anterior e que neste trabalho entendemos e falaremos insistentemente, como os complexos autônomos do inconsciente coletivo. Assim como quando, atua como motivadora e patrocinadora das passagens para a Irlanda, com o seguinte argumentando: “Tem que resolver isso, não só por você, mas pelo Doug e o Kevin. Eles precisam de você. Você vai ter um bebê e precisa estar aqui. Descubra o que aconteceu com a Mary e os filhos dela. Assim, você pode voltar para sua vida.”.

Embora o filme não deixe explicito, acreditamos que Jenny já estivesse grávida quando começa a acessar os conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, e como já mencionado no item 3.1, entendemos que a gravidez tenha sido o fator preponderante para ativar o complexo, em função do afeto e trauma vivenciado por Mary. Junto a este fator, funcionando como alavanca propulsora no processo de identificação com o afeto e trauma de Mary, temos o afeto experienciado por Jenny, no que tange a iminente dor de ninho vazio, junto ao filho Kevin, que participa os pais e já encontra-se pesquisando faculdades, localizadas longe se sua residência, além disso, ao mesmo tempo posiciona-os sobre a aquisição de um automóvel. Aqui, simbolicamente, o carro pode representar a própria liberdade e movimentação na vida. Os sinais de amadurecimento do filho Kevin associados à sensibilidade pelo estado de gravidez, intensificam suas recordações ou identificações, impulsionando o processo de individuação pessoal e de todas as pessoas ligadas a sua própria história. Visto que, o processo de individuação tem como meta fazer com que todo individuo se comprometa em despertar o melhor de si e no outro, reconhecendo o pior em si e no outro, administrando estas polaridades de forma salutar.

Doug na primeira fase do filme está mais identificado com os aspectos do patriarcado, no sentido de estar quase que integralmente focados nas questões profissionais, inclusive tendo como meta prover recursos para o bem-estar familiar. Conforme observamos no seguinte trecho extraído do filme, após saber que Jenny está grávida:

Doug procura confortá-la dizendo: que eles sempre quiseram mais um filho, e que só demorou um pouco mais, e que se não estava nos planos, teriam que reformular-los. E que a única coisa que o preocupava eram os negócios, pois passaram 20 anos se preparando, e agora tinham 8 meses para fazer dar certo, que do contrário, ai sim, não saberia como lidar com a faculdade do Kevin e o novo bebê.

Após a conversa sobre a gravidez com Doug, Jenny durante o sono, acessa mais conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente, onde é possível observar mais uma serie de aspectos simbólicos e aspectos da relação mãe, filho e pai, mediante contexto da história. Aqui o filme apresenta as seguintes imagens: ondas trazendo algas ou alguma vegetação aquática, dando aparência de sujeira à praia; um cachorro latindo e correndo em meio à sujeira; dois pássaros no alto de uma construção de pedra, sendo que um deles movimenta as asas abrindo e fechando, enquanto emitindo seu som peculiar; Mary chegando ao píer; John e Sonny aproximando em um pequeno barco após mais um dia de trabalho. Numa visão global, esta imagem mostra, a partir da perspectiva de Mary, que aparece de costas, indo ao encontro de uma pequena embarcação tripulada por John e Sonny aproximando-se da margem, dentro da baia cercada por um grande muro circular de pedra, separando do grande mar e que no horizonte apresenta uma porção de terra(continente ou ilha) seguida de mar, fazendo limites com o céu, que encontra-se nublado, repleto de nuvens. “Os processos naturais de transformação são anunciados principalmente no sonho.”.[4] (JUNG, 2008, § 235).

Podemos como possibilidade analítica entender o grande mar, a porção de terra e céu no horizonte como representação do inconsciente coletivo; a baia como representação do inconsciente pessoal; a pequena embarcação como consciente; John e Sonny como projeções do animus de Mary. E por conta de repressões continuas dos aspectos sombrios, em função possivelmente da dinâmica adaptativa sobre os complexos já constelados, o self vale-se das imagens arquetípicas mostrando a sujeira trazida pelo mar, que em contra partida, vale-se da imagem de um cão, também sujo, que passa em meio a esta sujeira marítima, mas, instintivamente, seguro da direção e do caminho que tomou. Quanto ao possível simbolismo relacionado às aves, que nos permite vincular à imagem a corvos ou abutres, e conseqüentemente a mortes e ao anúncio de maus augúrios, estão sempre associados com a mortificação, ou seja, a partir da experiência com as trevas e com o vazio, pode acontecer o encontro com o companheiro interior, o Self. É importante destacar que o som emitido por esta ave, está presente em todos os acessos e/ou invasões dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, experimentados por Jenny.

Além dos vários elementos simbólicos presentes neste conteúdo onírico e já comentados acima, também podemos observar Sonny entregando à Mary, o dinheiro que conquistou com trabalho extra, e que após insistência, a mãe aceita e guarda o dinheiro. Ambos vão abraçados para casa, deixando John atracando o barco sozinho, mas observando-os atentamente. Aqui podemos interpretar o dinheiro, além de recurso financeiro, também como energia psíquica, simbolizando possibilidade de progresso e futuro do individuo, e que aqui, Sonny insiste para que o matriarcado fique com esta possibilidade, mesmo observado pelo patriarcado. Além disto, mesmo não justificando a agressividade e desrespeito, que poderemos observar ao longo deste trabalho, praticada por John, fica evidente que Mary tem a mesma desconsideração pelo marido, mesmo que esta reciprocidade tenha sido instaurada e alimenta por John anteriormente. Ainda sobre o dinheiro, o filme apresenta em outra ocasião, John retirando de forma violenta todas as moedas que Mary guardava para o filho, arcando com a fúria dos conteúdos reprimidos e inconscientemente projetados em John.

Em outro momento, em mais um estado semi-sonambúlico de Jenny, temos John, Mary e Sonny caminhando no meio da floresta. O pai manda o filho verificar uma armadilha. Podemos observar o patriarcado dando uma certa autonomia, ao permitir a verificação e como não o acompanhou, conseqüentemente, também dá o poder de decisão sobre o que encontrar de possibilidades de vida. Principalmente, se considerarmos a imensidão de elementos que uma floresta é capaz de oferecer. No entanto, Sonny ao encontrar um coelho preso na armadilha, parece não saber o que fazer, até que Mary vai ao encontro do filho titubeante e encoraja-o a decidir se liberta o coelho ou se entrega-o ao pai. Sonny opta por libertar o coelho e pede segredo a Mary. No coelho podemos ver representado, a fertilidade ou o conhecimento vulgar e profano, dado o seu comportamento desorganizado e imaturo. Mas também pode simbolizar a morte do caráter infantil, em prol do amadurecimento futuro. E neste caso, mais uma vez, Sonny abre mão e/ou impõem resistência a esse sacrifício simbólico, talvez por medo e total insegurança em fazer a transição entre matriarcado e patriarcado, principalmente se levarmos em conta o modelo de patriarcado que ele tinha acesso através de John.

Como já mencionamos Maggie é quem incentiva e viabiliza a possibilidade de recurso terapêutico para Jenny, que chega através de um livro sobre reencarnação, escrito pelo hipnoterapeuta Dr. Christopher Garrison. A princípio Jenny rejeita a possibilidade, mas acaba reconsiderado, em função de mais um argumento esboçado por Maggie, dizendo:

“Você nunca esteve na Irlanda. Desenhou coisas quando era criança e de novo já adulta. Garrison diz que ninguém tem sonho assim. Ele diz que são lembranças. Não estou dizendo que acredito. Estou dizendo que pode ajudar a explicar o que esta sentindo.”.

Doug, mesmo contrariado, pois não acredita na possibilidade da reencarnação, acaba apoiando Jenny, que decide submeter-se a sessões de regressão de memória dirigida. Jenny acessa importantes conteúdos de seu inconsciente, no decorrer das sessões e na última apresentada no filme, o Dr. Garrison aparece dizendo:

“A força e a profundidade das emoções que você está experimentando com essa mulher irlandesa, me leva a acreditar que a vida dela é real.” E sugere, “É possível para você descobrir quem ela era?…quando viveu?… como sua vida de agora está ligada com a vida dela?… Esses não são sonhos, Jenny. São suas lembranças.”.

Aqui podemos identificar dois, dos importantes aspectos, normalmente presentes em um processo analítico. O primeiro, esta associado à obtenção e ao manejo das informações através dos recursos disponíveis, aqui no caso, através dos conteúdos de complexos autônomos do inconsciente coletivo, de forma espontânea e/ou dirigida. O segundo consiste em ampliar o material obtido, averiguando o sentido que podem representar em nosso processo de individuação, evitando assim, um comportamento onipotente em tentar identificar todas estas ampliações e possibilidades, restringindo-se ao set terapêutico.

Mary é uma mãe transbordante de amor, capaz de tornar o ambiente amistoso e harmonioso na ausência do pai, que promove uma dinâmica absolutamente oposta, temos aqui, a enantiodromia representada pelas figuras do pai e da mãe. O filme mostra John praticando violência física apenas contra Mary, e não contra os filhos. Entretanto, em uma das cenas, podemos observar Mary grávida, seriamente debilitada com escoriações, apresentando o lábio cortado do lado esquerdo e hematoma no olho direito. John inconsciente e inconseqüente dá vazão a todo o conteúdo sombrio, destrutivo e pessoal, assim como a projeção dos conteúdos sombrios, destrutivo das pessoas à sua volta. Se autodestruindo através do vício da bebida, da violência familiar e do constante descontentamento e amargura, estampados em sua fisionomia e comportamento. Ainda na seqüência desta cena, Mary entra em um açougue, onde há vários coelhos pendurados na vitrine e outras peças de carne penduradas atrás do balcão, evidenciando a morte.  E neste mesmo estabelecimento, Mary sente-se mal, com falta de ar e com dificuldade em se sentir em pé, sendo amparada pelas pessoas que estavam no estabelecimento. E ao receber uma xícara com água escuta o nome O´Neill, levando Jenny a deduzir erroneamente, como sendo sobrenome de Mary. Aqui através da xícara com a água salutar, podemos observar o self promovendo uma dinâmica curativa, adiando a identificação do sobrenome correto de Mary, pois o processo terapêutico que ocorria em Jenny, através dos conteúdos dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, atuavam também, diretamente nas questões pessoais de Jenny com relação ao filho Kevin, a sua própria gravidez e a seu casamento com Doug. Entendemos que se o nome correto de Mary tivesse sido descoberto neste momento, possivelmente Jenny não teria tido tempo e elementos necessários para promover as resignificações, as mortes simbólicas e os ajustes indispensáveis ao seu próprio processo de individuação. Em seguida, Mary dá a luz a um menino em um parto complicado e o bebê não resiste. John é alertado pelo médico, de que Mary não resistirá à outra gravidez.

De forma espontânea, seguindo a dinâmica dos acessos aos conteúdos ou invasões dos complexos autônomos do inconsciente coletivo, Jenny entra em mais um estado semi-sonambúlico, agora em meio a um canteiro de obra(construção civil). Aqui o aspecto simbólico esta expresso através, de uma casa onde apenas a estrutura, em madeira, está erguida. Ainda não há piso, paredes ou telhado, muito menos, portas, janelas ou qualquer outro elemento funcional, característicos de uma casa. Embora seja uma local com grandes possibilidades de êxito, ainda encontra-se em estado primário. Entra-se por qualquer parte e muitos são os envolvidos em sua construção. Assim, como Jenny, que é casada com um marido zeloso, mas que esta boa parte do tempo focado no andamento dos negócios, dos quais ela também é executora de atividades importantes, mas que no momento encontra-se relapsa, em função das preocupações com o filho Kevin que começa a apresentar atitudes de desidentificação com os pais, absolutamente, natural no desenvolvimento de sua personalidade, além da gravidez aos 42 anos de idade.

Ou seja, as atuais condições de Jenny estão análogas as condições da casa em construção, que se pode acessá-la por qualquer parte indiscriminadamente, Jenny também não tem qualquer controle de quando, onde e como entrará em estado semi-sonambúlico, permitindo invasões constantes de complexos autônomos de inconsciente coletivo. E também, sob o contexto que abordamos, esta desprovida de acabamento, tendo conhecimento de algumas informações sobre a família que, no filme, acredita ter pertencido, e a esta altura só identifica a gravidez como ponto de convergência entre as duas existências ou identificação com os complexos autônomos do inconsciente coletivo. Durante este último estado semi-sonambúlico, obteve a data em que a família de Mary teria vivido (17 de Janeiro de 1932), dando-lhe um importante recurso para investigação e validação da veracidade das informações obtidas até então.

Em outro momento, Jenny novamente em estado semi-sonambúlico, acessa conteúdos onde John em sua doença, espanca, violenta e engravida Mary, desconsiderando as orientações médicas. Impotentes do outro lado da divisória de cômodos da pequena casa onde moravam, os filhos ouvem e assistem a cena através das sombras refletidas no teto, como num teatro de horror, os pais tomados por toda a violência dos conteúdos sombrios destrutivos de ambos. Mary passa por mais uma gravidez complicada e aproveita cada instante com seus filhos. Certo dia em um piquenique, enquanto as crianças menores estão brincando nas imediações, Mary sente um pequeno mal estar, sendo ajudada por Sonny. Então, percebendo a gravidade da situação, pede que Sonny prometa-lhe que manterá as crianças unidas, caso ela não resista. Acuado, Sonny firma a promessa com Mary, que abraça-o encorajando-o. Curiosamente, Jenny ao despertar de seu estado sonambúlico, percebe a panela, em que preparava o jantar, queimando, e num impulso instintivo leva a panela à pia, queimando a mesma mão esquerda, que Mary afagava Sonny após a promessa.

Jenny após algumas tentativas frustradas em obter informações dos filhos de Mary, através de contatos telefônicos com o padre da paróquia em Malahide e através de cartas enviadas as famílias de sobrenome O´Neill, decide ir para Irlanda, apoiada por Maggie e por Kevin que a acompanha, mas contrariando Doug que decide não acompanhá-la.

Jenny atua efetivamente no andamento de seu próprio processo de individuação e alquimicamente falando, a esta altura do filme, já executou boa parte das etapas de calcinação, sublimação, solução, putrefação, dando inicio a etapa de separação. Tendo em vista que, entendemos o processo alquímico de forma dinâmica, ou seja, as etapas têm suas respectivas predominâncias, mas não de forma linear, onde seja possível identificar claramente onde uma etapa começa e outra termina, pois entendemos que há uma espécie de interposição entre elas, possibilitando elementos e recursos para o inicio da próxima etapa e/ou processo.

Em Malahide, Jenny e Kevin chegam de carro e no primeiro cruzamento, Jenny quase provoca um acidente de trânsito, em função das mãos de trafego serem invertidas, em relação às leis de transito de seu país(EUA). Simbolicamente, precisa estar atenta para administrar os diversos elementos de sua própria história, capacitando-se e seguindo como Jenny, em um local e/ou contexto onde havia, supostamente, sido Mary e/ou onde os complexos autônomos do inconsciente coletivo, agora, abastecidos de elementos sintonicos e reavivados, que conseqüentemente, potencializam os aspectos de identificação e viabilizam as invasões deliberadas, destes complexos em relação à sua própria consciência.

Cum maximo salis grano, espero que ninguém me leve a mal essa metaforização de um problema cientifico. Uma formulação dos fenômenos dos complexos, por mais sóbria que seja, não consegue contornar o fato impressionante de sua autonomia, e quanto mais profundamente ela penetra a natureza – quase diria a biologia – dos complexos, tanto mais claramente ressalta seu caráter de alma fragmentária. A psicologia onírica mostra-nos, com toda a clareza, que os complexos aparecem em forma personificada, quando são reprimidos por uma consciência inibidora, do mesmo modo como o folclore descreve os duendes que, de noite, fazem barulheira pela casa. Observamos o mesmo fenômeno em certas psicoses nas quais os complexos “falam alto” e aparecem como “vozes” que apresentam características de pessoas.[5] (JUNG, 2009, § 203. Grifo do autor).

Na cidade pela primeira vez, mas absolutamente familiarizada com o local, Jenny reconhece o açougue e a igreja, onde estabelecem o primeiro contato pessoal com o padre Kelly que disponibiliza os registros da igreja. Num primeiro momento, todo o esforço é em vão, pois Jenny e Kevin buscam informações de pessoas com sobrenome O´Neill, deduzido erroneamente por Jenny, como já mencionamos. Além da pesquisas aos registros da igreja, conversam com moradores da cidade, na tentativa de encontra alguém que conheça um dos filhos de Mary. E descendo uma das ruas da cidade ao lado do pier, sincronisticamente ouve o som de um pássaro, semelhante ao som que ouviu em todos os seus estados semi-sonambúlicos ou de invasões, mas lembra-se uma em especial, em que via Mary esperando Sonny chegar do trabalho, ali, bem próximo da rua onde estavam. E como que por um chamado de seu self, Jenny desce a rampa do píer e vai conversar com um dos pescadores sobre a família O´Neill. Aqui podemos observar Jenny seguindo sua intuição indo ao encontro e/ou utilizando seus próprios recursos inconscientes, visto que, a partir desse contado obteve a informação que buscava, todavia, não da forma que imaginava, mas ainda assim, se submetendo ao self.

Após a conversa, Jenny retorna ao carro e junto ao filho, tomam a direção da Rua Swords Road, principal rua presente nos conteúdos acessados, e ao volante Jenny entra em estado semi-sonambúlico, onde Mary encontra-se mortalmente debilitada após dar a luz a sua última filha. Enquanto Mary se despede dos filhos, Jenny bate o carro, novamente em um cruzamento. Aqui podemos ver mais uma vez a condução do self, redirecionado o andamento do processo de individuação, valendo-se dos recursos disponíveis. Visto que, por conta deste acidente, o pescador com quem acabara de conversar, mobiliza esforços em prol da obtenção das informações que Jenny buscava, pondo-a em contato com alguém que conhecera a família de Sonny.  O Sr. Thomas, que leva-os, Jenny e Kevin, ao local da antiga residência de Mary. Lá, enquanto Jenny entra pelo portão, em meio às ruínas da antiga casa, retoma o estado semi-sonambúlico, interrompido pelo acidente de carro, indo agora, até o fim da existência de Mary, que morre ressentida por deixar, definitivamente, o convívio familiar. Aqui percebendo mais um elemento de identificação com outro trauma vivido por Mary, que colaborou para a constelação do chamamos de complexo autônomo do inconsciente coletivo.

Hoje emdia podemos considerarcomomaisoumenoscertoque os complexossãoaspectos parciais da psique dissociados. A etiologia de sua origem é muitas vezes um chamado trauma, um choque emocional, ou coisa semelhante, que arrancou fora um pedaço da psique. Uma das causas mais freqüentes é, na realidade, um conflito moral cuja razão última reside na impossibilidade aparente de aderir à totalidade da natureza humana. Esta impossibilidade pressupõe uma dissociação imediata, quer a consciência do eu o saiba quer não. Regra geral, há uma inconsciência pronunciada a respeito dos complexos, e isto naturalmente lhes confere uma liberdade ainda maior. Em tais casos, a sua de assimilação se revela de modo todo particular, porque a inconsciência do complexo ajuda a assimilar inclusive o eu, resultando dai uma modificação momentânea e inconsciente da personalidade, chamada identificação com o complexo. Na Idade Média, este conceito completamente moderno tinha um outro nome: chamava-se possessão.[6] (JUNG, 2009, § 204. Grifo do autor).

Jenny retomando a consciência, atenta para a conversa em andamento entre Sr. Thomas e Kevin, dando-se conta de que o verdadeiro sobrenome de Mary é Sutton e não O´Neill, e de posse do nome correto, encontra o túmulo de Mary, tendo registrado na lapide, data de óbito, nove meses após a data que obterá em um de seus estados semi-sonambúlicos. Além disto, encontra flores com aspecto de que foram deixadas ali há pouco tempo. Concluindo assim, que alguém visitou o túmulo recentemente.

Kevin, em alguns momentos, desempenha o papel de animus salutar, projetado por Jenny, assim como se deixa conduzir pelo self pessoal e coletivo, tendo em vista que ele também será beneficiado pelo processo de individuação de Jenny. E é ele, que em nenhum momento dúvida e/ou diminui o significado que Jenny atribui às suas experiências, tido por muitos como, incomuns; é ele, que contrariando a opinião do pai, se oferece para acompanhar Jenny à Irlanda; é ele, que diante do desanimo e frustração de Jenny, motiva-a a continuar procurando os filhos de Mary; é ele, que toma à frente de resolver as questões práticas, em relação ao acidente de carro; e é ele, que liga para o pai após o acidente, argumentando e convocando Doug a participar do processo de individuação de Jenny.

Doug vai ao encontro da esposa e filho na Irlanda, e reencontra Jenny no túmulo de Mary, enterrando qualquer dúvida que ainda possa pairar em relação a seus relatos e experiências. Em seguida temos a família Cole e o padre da paróquia, pesquisando os registros, agora com o sobrenome correto. Aqui, podemos vislumbrar, mais uma vez, a ação com característica de psicopompo, antes manifestada através de Maggie e agora, desempenhadas através da família Cole e padre Kelly, empenhando esforço para encontrar os filhos de Mary. Entretanto, temos um padre intrigado e perguntando a Jenny o motivo de tanto esforço para encontrar uma família que não é dela. Ao que Jenny responde com outra pergunta:

Jenny: “A igreja Católica não acredita em reencarnação, não é, padre?”. E o padre brilhantemente responde:

Padre Kelly: “Não, mas isto não quer dizer que ocasionalmente, não aceitamos um milagre. Um fenômeno extraordinariamente raro. Eu vou lhe dizer em que acredito. Eu acredito que nossa alma não morre. E embora pessoalmente não acredite que se possa nascer novamente, poderia ser possível, na mais extraordinária das circunstâncias, que um espírito fale através de outra pessoa. O espírito desta mulher poderia estar falando através da senhora para encontrar os seus filhos. Isto não é exatamente reencarnação, eu sei! Pense em uma interpretação mais ampla.”.

Simbolicamente, neste contexto, interpretamos o padre, além de figura religiosa, também como representação do conselheiro que procura passar orientações importantes, sem qualquer julgamento desqualificador, personificando o arquétipo do Velho Sábio, entrando em contato com os filhos de Mary, explicando a história para cada um deles e propondo o convite de Jenny para uma reunião e reencontro dos irmãos, no túmulo de Mary.

Em seguida, podemos acompanhar Jenny colaborando no processo de individuação de Sonny. Ela o encontra pela primeira vez no cemitério, logo após ele deixar as flores semanais no túmulo de Mary. Ela se aproxima, falando inicialmente de forma ansiosa sobre suas experiências e o motivo de tê-lo abordado. Ele angustiado e atordoado pelo iminente confronto com seus respectivos conteúdos sombrios, e agora, despertados por Jenny, interrompe a conversa de forma definitiva. Sendo apenas persuadido, quando Jenny, quase desesperara, lembra e revela, estabelecendo vinculo de uma pseudo confiança, falando sobre um segredo que só Mary podia conhecer, referindo-se a decisão de Sonny, em poupar a vida do coelho encontrado na armadilha na floresta, enquanto criança. Sonny aceita conversar com Jenny, que passa-lhe outras informações, mas fica ainda mais perturbado quando constata que o objetivo de Jenny é encontrar e reunir todos os filhos de Mary, que ele próprio não vê ou tem qualquer informação há 65 anos. Negando-se a participar de qualquer aproximação.

Mesmo sem Sonny, Jenny dá seqüência à suas buscas, contando com a participação de seu marido, filho e o padre Kelly, encontra e organiza o reencontro. E decide fazer mais uma tentativa com Sonny, indo até sua casa, localizada à uma hora de distância, que ele percorria toda semana para visitar o túmulo da mãe, evidenciando aqui a não elaboração de luto. Encontra-o cultivando plantas e mais receptivo à sua presença, Jenny então revela suas novas descobertas convidando-o a participar do reencontro. Durante a conversa, Sonny, descobre que Geoffrey morreu há 10 anos, Elizabeth já esta na cidade, Phillip chegará naquela noite e Frank chegará no dia seguinte para a reunião de família. E é só então, que Sonny explica o motivo de sua resistência. Fala sobre a promessa que fizera a Mary e de seu fracasso em cumpri-la. Explica que após a morte de Mary, John estava sempre zangado ou bêbado, mal tratava os filhos e colocava-os para trabalhar nas fazendas. Sonny entregou os irmãos em um orfanato para protegê-los de John. Ele não foi aceito no orfanato por ser velho para adoção e mesmo sabendo que não seria possível, garantiu para os irmãos que ficariam juntos. Em vão, tentou encontrá-los anos mais tarde. O filme não deixa claro, mas aparentemente, Sonny não se casou e amargou uma existência solitária, possivelmente e inclusive, por não encontrar alguém capaz de suportar a projeção de sua anima idealizada. Em prantos, despediu-se de Jenny, entrando em sua casa, fechando-lhe a porta. Para mais tarde reconsiderar e ir ao reencontro dos irmãos.

Os elementos simbólicos presentes nos contatos de Sonny e Jenny são muitos, mas vamos nos ater a quatro: a) encontro no cemitério em meio a vários túmulos; b) cultivo de plantas; c) recolhimento em sua casa; d) encontro das famílias no cemitério.

a) Sonny visita o túmulo de Mary freqüentemente, atrelado a um passado longínquo, refém de um matriarcado impotente e, há tempos, inoperante, mas absolutamente adaptado e retroalimentando os complexos, permanecendo em um eterno estado de filho carente, vitimizado e aprisionado em uma culpa assumida, por uma crença inadequada, fruto do desespero de uma mãe, prevendo sua morte iminente. E o contato com Jenny estimula seu processo alquímico de calcinação de seus conteúdos, iniciado na primeira conversa dentro do cemitério e ampliada na continuação da conversa em uma cafeteria, dando espaço a etapa alquímica de sublimação, que certamente não fica estanque, após encerrar sua conversa com Jenny na cafeteria, dando então espaço a etapa alquímica de solução, ocorrido até o próximo encontro com Jenny.

b e c) Seguindo a lógica e/ou dinâmica do processo alquímico, podemos aproveitar o simbolismos de Sonny estar cultivando plantas em seu jardim, quando Jenny visita-o para entabularem o terceiro dialogo, onde ele tendo passado pelas etapas anteriores, recebe as novas informações sobre seus irmãos e se expõem desabafando os motivos de sua resistência, e ali já visivelmente suscetível, mas ainda relutante, recolhe-se em sua casa de porta fechada, dando espaço a etapa alquímica de putrefação. Resignificando antigos conceitos e posicionamentos, esvaziando e desarmando a automação dos complexos, dando espaço a etapa alquímica de separação.

d) E vencendo as etapas alquímicas anteriores, adquire massa crítica produzindo condições para um ego estruturante, dando espaço para as duas últimas etapas do processo alquímico de coagulação e tintura/união, indo ao cemitério reencontrando os irmãos e restabelecendo o contato familiar dando uma nova dinâmica à sua vida.

Após o importante reencontro familiar, Sonny e Jenny de braços dados, aparecem aproximando-se do píer, onde Mary esperava Sonny do trabalho. Sonny agradece por Jenny tê-los reunido novamente e constata que nem todas as lembranças são dolorosas.

Retomando a questão sobre a análise alquímica do processo de individuação de Jenny, percebemos aqui sua efetivação com as etapas de coagulação e tintura/união. Deixando evidente seu processo alquímico (calcinatio, sublimatio, solutio, mortificatio e putrefactio, separatio, coagulatio e coniunctio), quando, antes do reencontro entre os filhos de Mary, Jenny conversando com seu filho Kevin, explicando que Mary sentia-se culpada por não ter podido acompanhar o crescimento dos filhos e que ela, Jenny, tinha muita sorte. E pondera, incentivando o filho a cursar faculdade na Califórnia, longe do local onde moravam, reconhecendo e apoiando a maior idade de Kevin, bem como suas decisões como individuo adulto, conseqüência do desenvolvendo de sua personalidade. Kevin, por sua vez, não abre mão de suas possibilidades futuras, como fez Sonny insistindo que Mary ficasse com o dinheiro conquistado com trabalho extra, mas de forma consciente, adia seus planos por um ano, optando por uma faculdade em região próxima, de modo a viabilizar sua presença em casa nos finais de semana, para ajudar os pais nos negócios e poder ser o irmão mais velho do bebê que Jenny esperava.

A família Cole, retoma suas vidas nos EUA. Jenny mantém contato com Sonny, através de cartas constantes e após o nascimento de sua filha, Allison, em uma das cartas Sonny agradece e elogia as fotos enviadas. Dizendo também que seus irmãos estão se organizando para retornarem a Malahide, possivelmente com suas respectivas famílias, no próximo verão, quando Jenny e família visitarem à Irlanda, novamente. Junto às informações e comentários, Sonny envia-lhe uma foto de Mary, há tempos guarda em um livro antigo. Diz também, estar feliz em fazer parte da família de Jenny.

Enquanto lia a carta, as cenas mostradas alternavam entre Jenny e Sonny, que continuou a visitar o túmulo de Mary, levando-lhe flores, mas agora com um aspecto e uma atitude mais segura e jovial que nas cenas anteriores era incapaz de expressar.

Neste filme, que é baseado em fatos reais, todos os envolvidos foram afetados direta ou indiretamente, cada um passando, elaborando e resignificando seus elementos pessoais, refletindo inevitavelmente nos elementos coletivos, absolutamente salutares ao processo de individuação e/ou evolução humana.

Por fim, concluímos este capitulo mensurando de forma simbólica sua própria estruturação, que não teve sua análise relatada de forma linear, conforme seqüência cinematográfica apresentada no filme, mas sim, apresenta de forma coerente perante o todo, assim como acontece habitualmente nos processo de individuação de todo individuo.


[1] JUNG, Carl Gustav. Natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2009.

[2] JUNG, Carl Gustav. Estudos psiquiátricos. Petrópolis: Vozes, 1994.

[3] Conforme anexo na página 65.

[4] JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2008.

[5] JUNG, Carl Gustav. Natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2009.

[6] JUNG, Carl Gustav. Natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 2009.

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